Hudson e suas invenções

O Sr. Hudson era um inventor nato. Tinha muitas ideias e estava sempre inovando em seu tempo. Sempre trazia alguma ideia diferente pra casa. Algumas boas e outras………nem tanto.

O porão de nossa casa era bem amplo. Tinha um quarto, um pequeno banheiro, uma área livre ampla e uma mesa de ping pong que por muitos anos foi a alegria da família e de toda a vizinhança.

Era lá que a maioria das ideias eram operacionalizadas.

MUDANDO O PROPÓSITO DA CASA

Temos ovos de codorna

Ovo de codorna é muito saboroso, todos concordam. Mas daí a criar em casa as próprias codornas para se ter ovos já é uma ideia muito ruim.

Sr. Hudson comprou gaiolas e codornas e colocou no porão da casa. Só não contava que alguém tinha tratar, limpas as gaiolas e mesmo assim o mal cheiro era imenso. Foi uma ideia que não durou muito mas foi uma das invenções do Professor pardal da família Fonseca.

Galinhas caipiras em casa

Na mesma linha das codornas, também tivemos galinhas caipiras. Não precisa nem dizer que o cheiro foi um problemão né?

Carne de rã é boa. Mas e os encanamentos ?

Certa vez o Sr. Hudson chegou em casa com uma caixa e aquela carinha de quem estava planejando alguma coisa.

Quando vimos, ele havia trazido alguma rãs e disse que as criaria para podermos comer. Segundo ele carne de rã é muito boa.

Só se esqueceu de trancá-las longe dos encanamentos, pois foi um desastre os entupimentos causados e o trabalho que deu. Foi mais um momento de raiva da D. Neuza.

INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS

Fotografia revelada em casa

O banheirinho do porão já foi utilizado como estúdio de revelação de fotos. Era lacrado para não entrar luz e todas as fotos de família eram reveladas lá.

A preferência era revelar em slides, pois tínhamos um projetor. Mas também era possível revelar em papel.

O processo era um ritual que não podia ser interrompido. Era uma terapia.

Registrando a família com uma super 8mm

Além dos slides e fotografias, o Hudson também adquiriu uma filmadora e um projetor super 8. Além de servir para assistirmos cinema mudo, também registrávamos os momentos mais importantes.

Mas como os filmes eram muito caros, limitávamos ao máximo. Mas muita coisa foi registrada e infelizmente se perderam com o tempo.

Carro movido a gás

Apesar de ter um posto de gasolina, o Sr. Hudson era fã de uma novidade e passou seu fusca azul para funcionar a gás GLP, que por sinal era proibido por lei.

Várias engenhocas e botões foram colocados para transferir de um combustível para outro e também para bloquear, em caso de furto.

Ao longo do tempo os problemas eram resolvidos. Me lembro que nos caminhos das pescaria o botijão congelava e o gás não saia para o motor.  Tínhamos que viajar e o tempo todo checar a temperatura.

A solução foi funcional, mas hoje conseguimos entender o risco que corremos. Foi desviado uma parte da descarga do motor para a base do botijão. Ou seja, desviamos monóxido de carbono para respirarmos no interior do carro. Que perigo.

 

Uma certa vez tentamos ligar um fogão portátil de 2 bocas no botijão de 13 kg. Lógico que não aguentou a pressão e começou a cuspir uma forte labareda de fogo, quase incendiando o carro.

 

No final de tudo, o Sr. Hudson foi pego e o carro apreendido. Foi uma vergonha, mas ele não se importou com isso.

Inovações no material de pesca

Além das iscas preparadas com carinho, os materiais de pesca eram customizados  e a exigência era grande. O pior é que o filho mais novo era responsável por preparar.

O SAMBURÁ

Samburá é o “balaio” onde colocamos os peixes. os da família eram de arame, com porta com mola e feito no capricho. Quem fazia era nosso companheiro de pesca “Tonico Bergamini”.

 

AS LINHAS

Antes da pescaria, preparávamos uma pequena tábua com linha enrolada já com a chumbada e o anzol. Caso arrebentasse uma linha era só medir o tamanho da vara e amarrar a linha. Sem perda de tempo.

Eram feitas tábuas com vários diâmetros de linha para adaptarmos aos tamanhos dos peixes que pegávamos.

 

AS VARAS

As varas eram de bambu e seu preparo era muito rigoroso. Eram desempanadas gomo a gomo após esquentar com o maçarico e depois envernizadas com o maior cuidado. Era retas e firmes. E quem as preparava era outro companheiro de pesca, o “Jurandir”, ex combatente aposentado.

 

As ponteiras era de aço INOX e tinham que ser importados, pois tinham que envergar e voltar à posição.

Tinha um pedaço de INOX, um pedaço de linha 120 e uma argola com linha 70. Depois se colocava um pedaço de durepox na amarração da linha 120 no arame e colocava um pom pom de lã de pluma amarela para conseguirmos enxergar o peixe puxar.  Todos os materiais selecionados na melhor qualidade. E era mais uma atribuição do filho mais novo (Fernandinho).

 

Todos os preparativos eram um ritual a ser seguido.

COZINHA, PREPAROS E CHÁS

Massa para pescar gourmet

Todos os domingos e feriados era pescaria na certa. Todos os rios da região, afluentes do Rio Grande eram desbravados.

O mais importante era o ritual. Principalmente nos preparativos das iscas (massas).

Primeiramente ser fazia um tour pelas fábricas de queijo da região a procura da raspa da casca do queijo. Essa raspa era seca na laje de casa, pesteando a região com o cheiro de chulé.

Depois de seca, uma parte era misturada com canjiquinha para se jogar no rio e atrair os peixes e uma parte era amassada, misturada com farinha, leite e óleo e colocada para fermentar por algumas semanas em vidros grandes.

Depois de fermentada, todos os sábados nas vésperas das pescarias, era selecionada a quantidade a utilizar e amassada com farinha e óleo. A casa ficava inteira com aquele cheiro.

Durante a pescaria, nos tempos de calor, o óleo ia soltando e virando aquela meleca difícil de utilizar, mas segundo o Sr. Hudson, era isso que fazia os peixes vir até nosso anzol.

Cevada é mais barato que café

Uma coisa que não podemos negar é que tudo que mídia noticiava com afinco o Sr.. Hudson testava. Isso se aplicou a misturar cevada no café naquela época que café era caro. Foi só o fantástico mostrar em um domingo e na segunda apareceu cevada em casa.

Um cogumelo quase alienígena

O Sr. Hudson também tinha algumas crendices baseadas nos comentários de pessoas próximas. Certa vez ele apareceu com um cogumelo que se colocava na água e ele crescia até o tamanho do vasilhame. Se cortássemos um pedaço e colocasse em outro recipiente, ele se regenerava.

Ele começou a tomar essa água (chá) desse cogumelo dizendo que fazia bem para a saúde. Mas o resultado não foi nada bom. Ele pegou uma doença hepática com todos os sintomas de uma hepatite grave.

Um pouco de Chá de carobinha 

Dentre as crendices havia uma planta que se chamava Carobinha que o Sr. Hudson inventou de tomar chá. Todos os dias era uma garrafa térmica cheia que levava para o posto.

O pior era que a planta não era fácil de encontrar. Pra isso ele pedia ao motorista que transportava gasolina pra ele para parar na beira da estrada e colher carobinha. O Miguel todos os dias que ia a Belo Horizonte parava na estrada e perdia algumas horas colhendo a Carobinha.

No final teve uma crise alérgica com muita coceira nas mãos e tudo indica que foi reação da carobinha.

Sebo de boi na mão

Por incrível que pareça o S. Hudson tinha uma alergia muito forte nas mãos que, segundo ele, era por causa de gasolina. Nada curava a porosidade nas mãos.

Certa vez ele inventou de passar sebo de boi. Quando chegava do posto à noite, lavava as mãos com água quente e esquentava o sebo na chama do fogão e ficava passando nas mãos. O pior disso tudo era o cheiro horrível que ficava na casa.

HOBBIES

Caça

O perdigueiro Bingo

Além das pescarias, mas em menor escala, a caça de codornas, quando era permitido, era um hobby muito presente.

Os cartuchos calibre 20 eram reciclados e preparados pelo Sr. Hudson em casa. Ele tinha todos os equipamentos e ele mesmo fazia a recarga. Comprava chumbo, pólvora e serragem. E sempre que se disparava alguns tiros, ele preparava a recarga.

Para codorna, tínhamos o perdigueiro Bingo, que vivia em nossa casa e era treinado em um  terreno vazio, com uma bola de meia coberta com penas de codorna. Jogávamos a bola no matagal e o bingo procurava e a trazia de volta.

De vez em quando alternávamos a caça para Inhambu, que era feita em matas da região ou pomba trocal, que era caçada em roças de milho.

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